quarta-feira, maio 07, 2008

Bispo do Xingu é ameaçado de morte por sercontra hidrelétrica, lutar pela preservação daAmazônia e defender os direitos humanos

Não é de hoje que o bispo do Xingu, dom Erwin Krautler, pode ser tratado como um novo Chico Mendes, o seringueiro que enfrentou o latifúndio na Amazônia e acabou assassinado. Ele efetivamente conhece os perigos de lutar contra os poderosos da Amazônia. Em 1987, na militância em favor dos povos que vivem em torno da rodovia Transamazônica, o carro em que viajava foi abalroado por um caminhão. O padre que estava a seu lado morreu e dom Erwin ficou seis semanas hospitalizado. Pouco depois da colisão, um dos ocupantes do caminhão lamentou: “Matamos o errado.” O episódio não foi esclarecido pela polícia até hoje. Mas, naquele momento, o religioso aprendeu que naquele pedaço de Brasil ameaças contra ativistas costumam ser consumadas. Foi o que aconteceu em 2001 com Ademir Alfeu Federicci, o Dema, coordenador do Movimento Pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu, assassinado em casa com um tiro na boca, e com a missionária Dorothy Stang, morta a tiros por sua luta contra os madeireiros da região. Agora, o bispo do Xingu volta a ser alvo de ameaças, graças à sua mobilização contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. O bispo, de 67 anos, nasceu na Áustria, se naturalizou brasileiro e vive há 41 anos em Altamira. São tantas as causas que defende que é difícil identificar de onde partem as ameaças. Dom Erwin luta contra a devastação da mata, contra a prostituição infantil e pela prisão dos mandantes do assassinato de Dorothy Stang. Apesar dos riscos, não usa escolta policial e disse, em entrevista a ISTOÉ, não ter medo de morrer.

ISTOÉ – Como chegam as ameaças?
Dom Erwin Krautler – Verbalmente. No entanto, não são ditas na minha cara. Eu tenho pessoas de alta confiança que me passaram o aviso. Fontes que não posso dar os nomes me disseram que esse risco estaria ligado a essa mobilização em torno da usina Belo Monte. Numa roda de conversa chegou a ser dito: “A situação está muito ruim, temos que matar esse bispo.” Outra foi: “O bispo está atrapalhando muita gente. Tem que fazer com ele o mesmo que se fez com a Dorothy.” No dia 19 de junho, em uma manifestação feita aqui em Altamira, teve quem falasse com todas as letras: “É guerra, temos que descer o cacete.” Já sei o que significa isso.

ISTOÉ – O sr. tem medo, reforçou sua segurança?
Dom Erwin – Medo não é a palavra correta. Digamos que a gente não se sente muito bem nesse contexto. Recebi proteção pessoal durante algumas semanas, mas isso na minha função de bispo é impensável. Numa comunidade, o pessoal está acostumado a receber o bispo com alegria, com abraços e beijos. De repente eu chego com dois soldados? Isso é absurdo! Não tem jeito, eu tenho que enfrentar isso. Tenho fé em Deus.

ISTOÉ – O clima de insegurança permanece o mesmo da época doassassinato de Dorothy Stang?
Dom Erwin – Para mim, o caso do assassinato da irmã Dorothy Stang não está encerrado, mesmo sabendo que já estão presos e condenados o executor, o seu comparsa e o intermediário. O fato de um dos mandantes (Regivaldo Pereira Galvão, empresário e fazendeiro) estar em liberdade nos causou surpresa. A argumentação do próprio relator do Supremo Tribunal Federal, ministro César Peluzo, de que não se pode levar em conta a “sede de vingança coletiva” nos deixou perplexos. Nunca passou pela cabeça dos que defendem os direitos humanos a idéia de vingança.

ISTOÉ – Que problemas ambientais envolvem a hidrelétrica de Belo Monte?
Dom Erwin – Não se conta a verdade. Só se fala das grandes vantagensfinanceiras. Não se fala do real alcance do projeto. Até hoje em Altamira ninguém sabe até onde vai a inundação da cidade. Além disso, tenho opiniões de cientistas de renome como Oswaldo Sevá, da Unicamp, de que a usina não fará sentido se ficar em apenas uma unidade hidrelétrica. Precisa ter mais barragens porque o rio Xingu não tem condições de fazer funcionar o número de turbinas previstas quando estiver na época de seca.
ISTOÉ – Isso significa ampliar o projeto?
Dom Erwin – Sim, e significa também que as áreas indígenas serão inundadas; que não se ouve o povo ribeirinho. Ao longo do rio Xingu há muitas áreas indígenas, inclusive demarcadas. Isso afeta a Constituição, não se pode inundar essas áreas.

ISTOÉ – Qual a forma mais racional de explorar economicamente o Xingu?
Dom Erwin – Eu diria que o Xingu é o último pedaço de paraíso que existe no Brasil. É a coisa mais linda que se possa imaginar. Por que não aproveitamos essa área para outras finalidades, para atrair pessoas que queiram visitar essa natureza exuberante? Com essa hidrelétrica, o Xingu vai acabar. No meio do rio tem uma ilha que vai desaparecer. O que vai sobrar é o esqueleto de algumas árvores. É um absurdo. Do ponto de vista ecológico, essa área merece a atenção do governo, de todas as forças políticas, para salvar uma região tão linda que Deus fez aqui.

ISTOÉ – O presidente Lula já anunciou que se for reeleito vai construir a usina.Dom Erwin – Eu não concordo. Não sei se isso é apenas uma expressão de época de campanha. Mas não é tão fácil fazer isso. O presidente também está sujeito à Constituição, ele não está acima dela. Tem que respeitar os trâmites. Espero que ele não passe por cima de todas as preocupações deste povo que está aqui como se fosse um rolo compressor. Há que se levar em conta muitos fatores, o povo tem direito de se manifestar e de ser ouvido.

ISTOÉ – Qual é a situação da região após o assassinato de Dorothy Stang?Dom Erwin – O Estado ainda continua ausente. O bispo tem que levantar a vozem defesa da reforma agrária, em defesa da própria Amazônia contra a pilhagem, contra o saque, contra a devastação inescrupulosa. Nós estamos do mesmo jeito. Falta os organismos governamentais cumprirem sua função. Se o Incra funcionasse, se o Ibama funcionasse, eu não precisaria gritar. Onde o Estado está presente,o bispo não precisa denunciar fatos horripilantes de agressão à natureza, de agressão à Amazônia.
(Fonte:Isto É)
Abelardo Jorge 9957- 6033:."Nós acreditamos em Deus e seus profetas": We believe in God and his prophets , Creemos en Dios y sus profetas, Noi crediamo in Dio e la sua profeti, Nous croyons en Dieu et en ses prophètes,Wir glauben an Gott und seinen Propheten ,Πιστευουμε στο Θεο και του προφητες, ونحن نؤمن بالله وبلدة الأنبياءابيلاردو خورخي ....Leia mais nos links: http://www.amazoniaviva.zip.net, http://www.brasiline.zip.net, http://www.globorondonia.blogspot.com,