terça-feira, julho 12, 2005

A Tuberculose mata milhões no mundo. Conheça os sintomas e tratamento

TUBERCULOSE MATA MILHÕES E TEM BAIXO ÍNDICE DE CURA EM RONDÔNIA
Conhecida há mais de cinco mil anos ou cinco milênios entre os povos das civilizações mais recuadas da Mesopotâmia, entre os quais os Sumérios, Acádios, Amoritas, Assírios, Caldeus, entre os Hebreus e Fenícios e no Egito, na época dos governos teocráticos dos faraós Ramsés, Queóps, Quefrem, Miquerinos, Tutancamom e outros, a tuberculose matava milhões de pessoas na Antiguidade. Na Idade Média, no ano 1532, um especialista em Teoria Geral do Estado ou Ciência Política, Nicolau Maquiavel, autor do livro: “O Príncipe”, citava a tuberculose como exemplo de lição para os governantes: “Da tísica dizem os médicos que, a princípio, é fácil de curar e difícil de conhecer, mas com o correr dos tempos, s e não foi reconhecida e medicada, torna-se fácil de conhecer e difícil de curar” (Maquiavel, Nicolau. O Príncipe. Editora Tecnoprint S.A. São Paulo. 2ª ed. 1991).
Nos dias atuais a tuberculose continua vitimando milhões de pessoas. Nos países mais pobres ou subdesenvolvidos das Américas, Ásia, África e até na desenvolvida e parlamentarista Europa. A Organização Mundial de Saúde-OMS estima que nos próximos anos entre oito a 10 milhões de pessoas serão contaminadas pela doença ou mortos pela doença, que tem altos índices nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. “Em Rondônia o índice de cura é baixo e a taxa de pessoas contaminadas em Porto Velho e maior do que a taxa nacional”, afirmou o médico tisiopeneumologista e intensivista Francisco Faig, durante uma entrevista ao jornalista e sociólogo Abelardo Jorge.

TISIOPNEUMOLOGISTA E INTENSIVISTA
Natural de Guaratinguetá, 59 anos, Francisco Faig concluiu o Curso de Medicina na Universidade Federal Fluminense e fez pós-graduação no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de São Paulo-USP. Mora em Rondônia há cinco anos. É um dos responsáveis pelo tratamento de pacientes internados na enfermaria “isolamento” do Centro de Medicina Tropical de Rondônia-Cemetron. Também é Coordenador da Unidade de Tratamento Intensivo-UTI do Hospital 9 de Julho.

ASPECTOS HISTÓRICOS
Francisco Faig fez um resumo do que classifica de “aspectos históricos” da tuberculose: “Como você já falou, a doença é conhecida desde a Antiguidade, há mais de cinco mil anos. Em 1882, Robert Kock identificou o agente etiológico, corando-o com fucsina-anilina, hoje conhecido como “Bacilo de Kock. Há 100 anos, a tuberculose era responsável por um a cada quatro óbitos na Europa (25% das mortes). Há 61 anos, em 1944 -(durante a II Guerra Mundial)- foi descoberta a Estreptomicina. A partir daí a tuberculose tinha cura. Há 15 anos houve a reemergência da tuberculose nos países desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento nunca havia sido controlada. Em 1993, a OMS declarou a tuberculose emergência global. É que a exemplo do que ocorre em Rondônia ou nos casos identificados no Cemetron, a tuberculose havia reaparecido com mais intensidade, nas formas ganglionar e intestinal, mais constatada nos pacientes contaminados pelo vírus da Aids (HIV). Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, a tuberculose pode “atacar”, além dos pulmões, vários outros órgãos do corpo humano e dos animais. Em 1998 foi decifrado o genoma(o código genético ou a “escada” do DNA) do “mycobacterium tuberculoses”, explicou.

A SITUAÇÃO ATUAL
Francisco Faig que uma estimativa da OMS indica que 1/3(um terço) da população mundial esteja contaminada pelo bacilo da tuberculose. “Entre 5%a 10% dessas (dos 33,33% da população global) irão ficar doentes ou eliminar o bacilo durante suas vidas. Cada pessoa contamina de 10 a 15 pessoas. Já foram registradas mais de 10.000 mortes no Brasil e dois milhões no mundo.

TUBERCULOSE EM RONDÔNIA
Segundo a estatística formal do Cemetron, no ano passado, foram identificados 600 casos de tuberculose nos atendimentos ambulatoriais.O médico Francisco Faig afirma: “O índice de cura é baixo em Rondônia. Em 1998 a taxa era de 20%; em 2003, 9,8% e hoje (dados de 2004) o índice é de 47%. Em 98b os óbitos somaram 3,2%; em 2001, 6% e em 2003 mais de 5,1%”.

TUBERCULOSE EM PORTO VELHO
Faig explica que tomando como parâmetro os 275 casos constatados em Porto Velho em 2003, a taxa é de 77% em cada 100.000 habitantes, ou seja, 50% maior do que a taxa nacional. “Hoje, a taxa de cura é de 48,4%, a taxa de abandono do tratamento é superior a 9,8% e os óbitos somam mais de 4,4%”, disse.

FATOR SOCIAL- HDI
Na opinião de Francisco Faig, a expansão ou desenvolvimento da tuberculose nos 51 municípios do interior de Rondônia e na capital, Porto Velho, ocorre por conta do baixo índice de desenvolvimento humano-HDI. Ao contrário do índice Gini, que mede as “exigüidades” da concentração de renda das oligarquias ou “burguesias” dominantes dos governos, o HDI leva em consideração a expectativa de vida ao nascer; grau de alfabetização de adultos; número de escolas por aluno e a renda “per capita”. Sobre a renda “per capita”, o Bacharel em Ciências Sociais- Sociólogo Abelardo Jorge critica: “A renda “per capita” é quase sempre é uma “ficção” no Brasil. Em tese, a Renda Nacional, ou seja, O Produto Interno Bruto-PIB -( ou toda a riqueza gerada nas atividades produtivas ou econômicas do país, excluindo os milhões da economia subterrânea ou informal)- descontadas as “transferências” para o Exterior, deveria ser dividida entre todos os brasileiros. Seria a renda “per capitã”. Mas, a título de exemplo pedagógico, numa linguagem bem popular: Duas pessoas vão a um restaurante. Um come frango. Outro só olha. No cálculo da renda “per capita” aparece como se os dois tivessem devorado o galináceo assado. Assim é a “ficção” da renda por cabeça no Brasil”, explicou Abelardo Jorge.

CONTAMINAÇÃO DE ANIMAIS
Francisco Faig adverte que o bacilo da tuberculose é de fácil propagação e, ao contrário do desinformados pensam, também contamina bovinos, causando queda de produtividade do rebanho; quadro crônico de evolução progressiva e condenação das catracas de abate.
TUBERCULOSE COMO ZOONOSE
Faig explica que a pasteurização do leite diminui a transmissão da bovina para o homem, entre os quais estão sempre em risco os tratadores de animais e magarefes. Os dados escassos sobre tuberculose humana por “Mycobacterium Bovis” ou baciloscopia do escarro não permite a diferenciação das espécies.

ETIOLOGIA
A ordem Actinomycetales, gênero Mycobacterium-M, das espécies M. tuberculosis em humanos e M. africanum, também em humanos (não existe no Brasil); M.bovis, em bovinos; M.avium, que contamina aves: o Bacilo álcool-ácido resistente-BAAR (não descora pelo álcool clorídrico quando corado pela fucsina, nos testes de laboratório) é também resistente ao calor, à dessecação e a diversos desinfetantes. Pode viver até dois anos em estábulos, pasto e esterco; um ano na água e em produtos de origem animal contaminado. É um parasita intracelular obrigatório, imóvel e de crescimento lento. “O bacilo da tuberculose (TB na linguagem dos médicos e bioquímicos) tem reprodução lenta. Não vive sem luz e precisa de Oxigênio (é aeróbio), portanto, diferente do tétano que é anaeróbio( não precisa de Oxigênio e sobrevive de fermentação e é mais letal)”, explicou.

EPIDEMILOGIA
Francisco Faig adverte que as principais fontes de infecção atingem animais doentes, portadores (bovinos, bubalinos, humanos e animais silvestres). As principais vias de eliminação é a tosse, espirro, expectoração, corrimento nasal, leite, urina, fezes, secreções vaginais e uterinas e sêmen. A via de transmissão é a inalatória (aerossóis em suspensão no ar-gotículas de Pflugg) e a via digestiva. A porta de entrada é a mucosa respiratória e a mucosa digestiva (leite)

SINTOMAS E DIAGNÓSTICO
Nos seres humanos a tuberculose apresenta sintomas como: tosse persistente por mais de três semanas (com ou sem expectoração); emagrecimento, hemoptise (presença de sangue no escarro). O diagnóstico em seres humanos é quase sempre feito através da baciloscopia do escarro ( que não diferencia M.bovis de M.tuberculosis), Raio X do tórax, teste tuberculínico (PPD) e cultura do escarro(não utilizam rotineiramente meios de culturas adequados ao M.bovis, como o meio de Stonebrick, rico em piruvado). Ao contrário dos exames de cultura com antibiograma que podem ser feitos em até três dias, mantido o disco de antibióticos e as “sementes de bactérias” numa temperatura de 36,5º ou 37º (graus centígrados Celsius), a cultura para identificação de tuberculose pode demorar até 40 dias porque o bacilo cresce lentamente.

TRATAMENTO
Francisco Faig adverte que em animais o tratamento não deve ser realizado devido aos riscos epidemiológicos. Nos seres humanos o tratamento é feito com a combinação de Rifampicina, Isoniazida, Pirazinamida, Estreptomicina, Etambutol, Etionamicida. Tratamento tríplice(RIP) por seis meses.

ESQUEMA DE FALÊNCIA
Faig disse que existem casos em que é necessário usar o “Esquema de Falência” contra a tuberculose-MR(multiresistente). Nesses casos o tratamento à base de Quinolonas, associadas a Ofloxacina e Ciprofloxacino pode demorar até 18 meses. Existem casos patológicos em que é preciso associar o tratamento à cirurgia para a retirada da parte necrosada do pulmão.(Abelardo Jorge)