terça-feira, julho 12, 2005

Pacientes não recebem medicamentos do Ministério da Saúde em Rondônia

Portadores de Hipertensão não recebem medicamentos na Policlínica Oswaldo Cruz

Milhares de pacientes portadores de hipertensão arterial e que precisam tomar medicação contínua estão sendo prejudicados e podem sofrer infarto, acidente vascular cerebral-AVC, paralisia dos rins e entre outras graves conseqüências da hipertensão ou pressão arterial maior do que 140, na máxima, e 90 na mínima. A reportagem do Alto Madeira esteve ontem pela manhã na farmácia da Policlínica e constatou que os medicamentos Propanox, Propanolol, Hidroclorotiazida, Metildopa, Captopril ou Capoten, todos prescritos por cardiologistas, lotados na própria Oswaldo Cruz, não estão disponíveis aos pacientes. “Esses medicamentos estão em falta e não há nenhuma previsão para que seja distribuído aqui”, disse uma atendente a uma paciente com idade superior a 45 anos. Também não estão recebendo medicamentos os pacientes portadores de úlcera, diabetes, epilepsia, cardiopatas e outros que precisam dos medicamentos: Homeprazol, Ranitidina e Andursil também não recebem Tegretol, Clibencamida, Fenobarbitol, Neofidipina, Adalat, Isordil e muitos outros. Uma humilde funcionária deste jornal não recebeu os medicamentos prescritos.
A situação mais grave e dolorosa é dos portadores de Hipertensão. A doença é maligna, incurável. Sem tomar os medicamentos, os pacientes ficam expostos a danos nos vasos sanguíneos, no coração, no cérebro e nos olhos. Podem sofrer “derrame” ou AVC, que é a perda repentina da função cerebral -resultante da interrupção do fluxo sanguíneo para determinada parte do cérebro- ou seja, podem ocorrer casos de morte cerebral, trombose cerebral, embolia cerebral, isquemia cerebral e hemorragia cerebral se os medicamentos não foram ingeridos na forma como estão prescritos nas receitas médicas.

A hipertensão atinge milhares de idosos, aposentados do INSS, Funrural, ex-Soldados da Borracha e outros estratos sociais impossibilitados de comprar ou arcar com o alto custo dos medicamentos, que deveriam estar sendo distribuídos gratuitamente pelo governo estadual e federal.
Por várias vezes a reportagem do Alto Madeira tentou entrevistas o diretor da Policlínica, Ronnie Peterson. As secretárias informam que ele está “viajando” ou em “reunião” e “não quer ter o nome divulgado porque se envolveu num acidente automobilístico e a vítima teria morrido”, disse uma atendente da Farmácia. Quando assumiu o cargo, há mais de sessenta dias, ele anunciou mudanças no funcionamento, numa tentativa de humanizar os serviços do Sistema Único de Saúde e do governo estadual aos milhares de pacientes que buscam atendimento seletivo de urgência ou emergência. Entre as mudanças, Petterson extinguiu a obrigatoriedade de ligações para o telefone 0800 647 5051 para a marcação de consultas com até 60 ou 90 dias de antecedência, como vinha acontecendo desde o final de 2003. As filas diminuíram, mas a falta de medicamentos é inexplicável e o silêncio da Secretaria de Saúde é sepulcral, deixando margem à interpretação sobre vestígios de prevaricação, omissão de socorro e descaso para com os eleitores, pagadores de impostos, enfim, com a massacrada população.

ATENDIMENTO SÓ COM “ENCAMINHAMENTO”

Outra grande reclamação da população é o atendimento ambulatorial. Se um paciente sente fortes dores de cabeça, por exemplo, ou um sintoma grave dor no peito ou angina ou de pré-infarto, não recebe atendimento porque precisa procurar um medico para fazer o famigerado “encaminhamento”. Nos murais da Policlínica é possível constatar cartazes com os dizeres: “As senhas serão entregues mediante encaminhamento médico”. Essa inovação marginaliza ou discrimina milhares de pessoas que dependem da assistência médica do Poder Público. Pessoas que sofrem de grave hipertensão e cardiopatias, ou seja, pacientes que precisam de atendimento imediato, independente de “encaminhamento” simplesmente ficam à mercê da própria sorte. Em situação similar ficam os analfabetos, agricultores residentes nas zonas rurais de remotos municípios estão sendo amplamente prejudicados. Eles se deslocam dos municípios de origem, pagam passagens e não recebem o pronto atendimento médico pago, custeado com dinheiro do Sistema Único de Saúde-SUS, cujas verbas são originárias da carga tributária de 40% do Produto Interno Bruto-PIB para por mais de 180 milhões de brasileiros, em toda sorte de impostos cobrados no consumo e nos serviços. (Abelardo Jorge)