terça-feira, julho 12, 2005

Conheça os sintomas de uma picada de cobras venenosas e animais peçonhentos que vivem na Amazonia

ANIMAIS PEÇONHENTOS PODEM
CAUSAR MORTES EM PORTO VELHO
Além dos transtornos causados depois das constantes chuvas, tais como ruas e avenidas alagadas e cheias de crateras, matagais, bairros cheios de lixo, falta de iluminação pública e os constantes cortes no fornecimento de energia elétrica, em Porto Velho foram constatados mais de 181 acidentes com animais peçonhentos ou inoculadores de veneno, até dezembro de 2004. No inverno a média de acidentes aumenta entre 25 a 35%. Entre os mais venenosos estão cobras como a Jararaca, Coral, Cascavel, Pico-de-Jaca, escorpiões, lagartas, vespas, formigas e as letais abelhas africanas. “As vítimas podem ter hemorragia ou sangramentos, necrose, limitação de movimentos, amputação de órgãos, insuficiência respiratória, hipotensão, entre outros sintomas”, advertiu o diretor-clínico do Centro de Medicina Tropical de Rondônia-Cemetron, Luiz Augusto Paiva Cardoso, durante uma entrevista ao jornalista Abelardo Jorge (foto)
Os acidentes com ofídios ou cobras passaram a ser notificados no Brasil apenas a partir de 1986, quando o Ministério da Saúde tornou obrigatório as notificações. Em 2000, nas quatro macro-regiões: Norte, Sul, Leste e Oeste, os acidentes com animais peçonhentos somaram mais de 25 mil. O coeficiente de letalidade ou de óbitos no país é de 0,45%. Na região Norte, a letalidade ou mortes já atingiu até 0,84%, ou seja, 86,7% a mais do que os óbitos nas outras regiões.

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA MORTES
Entre as causas do alto índice de mortalidade depois de acidentes com animais peçonhentos na região Norte, pode-se apontar má capacidatação ou má qualificação das equipes responsáveis pelos primeiros socorros aos pacientes; desconhecimento do animal. Na estatística geral, os peçonhentos atacam mais adultos e jovens do sexo masculino. As enchentes facilitam a “sazonalidade” ou aproximação dos animais peçonhentos das palafitas e outras residências.

ACIDENTES COM OFÍCIOS OU COBRAS NO BRASIL
A campeã de picadas é a Jararaca (Bóthrops), com 90,5% dos casos. Em seguida as cascavéis (Crotalus), com 7.7%. A Pico-de-Jaca (Lachesis Muta-Muta) responde por 1.4% e as corais (Micrurus) ficam com 0.4%. Entre essas cobras, a Crotalus Duríssimos Ruraima (outro nome científico da cascavel) “ainda não foi encontrada na Amazônia”, explica Luiz Augusto. Em 2000, nas macro-regiões os acidentes ou picadas de Jararaca somaram 59.619, levando a um total de 184 mortes ou um índice de 0,31 de letalidade. Na região norte o índice foi de 0.14% a mais, sendo a região onde ocorreu maior número de óbitos.

COMO IDENTIFICAR UMA COBRA VENENOSA
Um ofídio ou cobra venenosa possui fosseta loreal (orifício entre as narinas e olhos), presas, cauda com escamas eriçadas, cauda com chucalho (cascavel), cauda lisa (jararaca).

O TERROR DA AMAZÔNIA
O médico Luiz Augusto explica que a Jararaca ou Jararaca do Norte e a “Cobra-Papagaio” formam a dupla chamada de “Terror do Norte”. É o tipo de cobra que mais mata em todas as regiões do Brasil. “Os pacientes picados por Jararaca ou cobra-papagaio apresentam processo inflamatório agudo; dor; hemorragia; complicações locais; bolhas; necrose; abscesso; limitação de movimentos; podem ter órgãos amputados; incoagulabilidade sanguínea; sangramentos na gengiva, equimose e hematúria (urinar sangue)”, disse. Os sintomas mais graves são hipotensão (pressão arterial baixa) ou choque; hemorragia intensa; insuficiência renal e edema externo.

FATORES QUE DE RISCO PARA PICADOS POR JARARACAS
O uso de torniquete (o melhor é não usar torniquete); fazer incisões ou cortes no local da picada; e a demora entre o acidente ou picada e o atendimento médico ou primeiros socorros. Não adianta recorrer a receitas caseiras, tais como ingerir álcool ou querosene.

ACIDENTES COM PICO-DE-JACA
O paciente apresenta dor, edema, equimose, bolhas, diminuição do batimento cardíaco, cólica abdominal, diarréia e as mesmas complicações dos picados ou atacados por jararacas.

ACIDENTES COM COBRAS CORAIS
A pessoa picada por uma coral apresenta sintomas como: “parestesia (anestesia local), vômitos, faces miestênica ou cara de bêbado, ptose palpebral, flacidez dos músculos das faces, turbação visual, oftalmoplegia (dupla visão ou enxerga imagens duplicadas), tem dificuldade para engolir e o mais grave: insuficiência respiratória”, descreveu Luiz Augusto.

ESCORPIONISMO
Os acidentes com escorpiões são menores do que os constatados com as cobras ou serpentes.Na nossa região o escorpião mais comum é o “Metuendus” da família “Titius”. Uma picada de escorpião também pode matar se o atendimento médico ou aplicação de soro for demorada. A sazonalidade ou movimentação dos escorpiões variam muito no período de chuvas. A maior incidência dos acidentes acontecem na zona urbana. “Para evitar picadas de escorpiões é preciso manter a casa limpa, verificar tijolos, materiais de construção, sacudir roupas, sapatos e manter os predadores naturais, as galinhas e os sapos”, ensina Luiz Augusto.

ACIDENTES COM ARANHAS
No Brasil o maio número de acidentes acontece com a picada da “Viúva Negra” (Loxosceles), que responde por 36,6% da estatística nacional. A aranha armadeira (phoneutra) e a latrodectus também podem causar lesões graves e até mortes. A armadeira vive mais nos jardins. Existe soro contra os venenos ou antiaracnídeo.

LAGARTAS
As lagartas (Lonômias) podem causar hemorragia; lesões; equimoses extensas; necroses; insuficiência renal aguda o que pode levar a morte. Em 2004 o Cemetron registrou apenas um caso de relativa gravidade. Um exemplo de acidente com lagarta é o que pode acontecer nos parques, nas trilhas, na subida de árvores, nos jardins, onde por vezes a pessoa pode encostar na lagarta por acidente.

VESPAS, MOSCAS, FORMIGAS E ABELHAS AFRICANAS
Os “Hemninópteros também podem matar. Entre estas espécies a mais letal é a Abelha Africana(Apis Milifera), introduzida no Brasil em 1957 e que se espalhou pode todos os 35 países das Américas do Sul, Central e do Norte. Picadas de vespas, moscas, formigas e abelhas podem apresentar reações alérgicas imediatas.

EQUIPE DO VITAL BRASIL E INSTITUTO BUTANTAN
O médico Luiz Augusto Paiva Cardoso explicou que o Cemetron e todos os Postos de Saúde do Estado possuem soros e informações sobre como prestar os primeiros socorros aos pacientes vítimas de acidentes com animais peçonhentos. Nesse trabalho de pesquisas sobre Animais Peçonhentos participaram médicos-doutores e pesquisadores, referências nacionais, Carlos Roberto de Medeiros, Célia Maria Sant`Ana Malaque, Fan Hui Wen, Francisco Siqueira França, João Luiz Costa Carolosa e Marília Miranda Franco. Todos integrantes das equipes do Hospital Vital Brasil e do Instituto Butatan, sediado em São Paulo. (Abelardo Jorge)